sábado, 19 de julho de 2014

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS - ANÁLISE DE BALANÇO

                                                     











       

Introdução

A metodologia da análise vertical e horizontal presta-se fundamentalmente ao estudo de tendências. A análise vertical baseia-se nos valores relativos das contas das demonstrações financeiras. Para isso, é calculado o percentual por cada conta em relação a um valor base. Convém atribuir, no balanço patrimonial, peso 100 ao total do ativo e relacionar todas as contas dessa demonstração com esse total. Na demonstração de resultados convém atribuir peso 100 à receita líquida.
A análise vertical mostra a importância relativa de cada conta dentro da demonstração e, através da comparação com padrões do ramo de atuação ou com as relações da própria empresa em anos anteriores, permite inferir se há itens fora das proporções usuais.
Mostra, por exemplo, qual a composição dos recursos tomados pela empresa, qual a participação de capital próprio e de terceiros, qual a distribuição destes a curto e a longo prazo, qual a proporção dos recursos totais que está alocada ao ativo circulante, ao ativo permanente, etc. A comparação com seus correspondentes do ramo de atividade da empresa permite verificar a tipicidade dessas alocações.
A análise horizontal relaciona cada conta da demonstração financeira com sua equivalente de exercícios anteriores. Mede, então, evolução das contas ao longo de dois ou mais exercícios, permitindo uma idéia da tendência futura, considerando-se entretanto que a análise horizontal é afetada pela inflação. É necessário transformar todos os valores em valores presentes de uma mesma data, através da utilização de um índice de atualização do poder aquisitivo da moeda. A aplicação desse método permite determinar a evolução real das contas.
È recomendável que ambas as análises sejam usadas em conjunto. De fato, ambas devem ser entendidas como uma única técnica de análise.
Vejamos como tudo isto pode ser feito.

O que é Análise Vertical e como calculá-la?

A análise vertical, considerado um dos principais instrumentos de análise de estrutura patrimonial, consiste na determinação dos percentuais de cada conta ou cada grupo de contas do balanço patrimonial, em relação ao valor total do Ativo ou Passivo, determinando também a proporcionalidade das contas do demonstrativo de resultado em relação à Receita Líquida de Vendas, considerado como sua base.
Em relação ao balanço patrimonial, ela procura sempre mostrar, de um lado, a proporção de cada uma das fontes de recursos e, de outro, a expressão percentual de cada uma das várias aplicações de recursos efetuadas pela empresa e comparando-se exercícios subsequentes, podemos constatar a mudança da política da empresa, quanto à obtenção e à aplicação de recursos.
Para se efetuar o cálculo da análise vertical no balando patrimonial, podemos apurar o percentual relativo a cada item do demonstrativo da seguinte forma:

Como podemos constatar no demonstrativo a seguir, o percentual do grupo Circulante do ativo foi calculado da seguinte forma:

× 100 = 61,1%

O cálculo da percentagem pode ser feito, também, relacionado cada conta com o total do seu grupo. No nosso balanço, abriríamos mais uma coluna ao lado da Análise Vertical (A.V.%), denominada “ % sobre o grupo, e , nessa última, cada grupo de contas passaria a representar os 100%. Assim cada conta teria duas porcentagens, uma expressando o seu valor em relação ao total do Balanço e outra expressando o seu valor em relação ao total.
Veja como pode ser representado a Análise Vertical:
Conforme já citado anteriormente, a análise vertical pode ser estendida, também à Demonstração de Resultado, quanto comparamos cada item do demonstrativo ao total da Receita Líquida de Vendas.
Atenção: Comparamos cada item do Demonstrativo de Resultado com a Receita Líquida de Venda pois o objetivo é eliminar prováveis distorções com deduções de impostos diretos e/ou abatimentos e devoluções com a interpretação e a análise dos valores.
Analisando o demonstrativo a seguir, notamos que o Lucro Operacional, apesar de não apresentar taxa elevada, aumentou a sua participação de 5,2% para 7,8%, em decorrência da diminuição do custo das vendas (de 70,8 para 69,8%), e das despesas operacionais (de 22,3 para 21,8%).
Notamos também que, apesar das despesas operacionais terem se elevado monetariamente, quando comparadas à receita, apresentam uma redução na sua participação proporcional.
Como exemplo, a porcentagem relativa ao Custo das Vendas foi calculada mediante a seguinte fórmula:

× 100 = 70,%

Compare os demais porcentuais no demonstrativo abaixo:




















O que é Análise Horizontal e como calculá-la?

A Análise Horizontal é uma técnica que parte da comparação do valor de cada item do demonstrativo, em cada período, com o valor correspondente em um determinado período anterior, considerado domo base e tem como objetivo mostrar a evolução de cada conta (ou grupo de contas), quando considerada de forma isolada.
Complementa a Análise Vertical, que nos informa o aumento ou diminuição da proporção de uma determinada despesa em relação a um determinado total, mas não nos diz se essa variação foi derivada do aumento ou da diminuição do valor absoluto da verba considerada.
Quando verificamos o grupo de contas Circulante da Indústria S/A, apesar da participação desse grupo ter caído de 71,5% para 61,1% (pela análise vertical), o seu valor absoluto cresceu 11,3% (pela análise horizontal).
Por isto é importante frisar que análise vertical e a análise horizontal devem ser elaboradas sempre em conjunto para verificar qual o grau de influência que uma exerce sobre a outra e, conseqüentemente, sobre a conclusão da evolução dos valores da empresa.
Os resultados obtidos por meio da análise horizontal devem ser interpretados com certa reserva, porque nem sempre os maiores valores percentuais de aumento são os mais significativos.
É o que ocorre, por exemplo, com a conta Outros, que apresenta o maior acréscimo dentre os valores do Circulante (132%), aumento esse que, se torna inexpressivo ao lembrarmos que essa conta representa apenas 5,7% das aplicações totais da empresa.
Cada um dos percentuais da coluna de variação (AH %) foi calculado da seguinte forma:
Sendo assim, podemos apurar como exemplo que o Passivo Circulante pode ser calculado da seguinte forma:

× 100 = 129

Tal resultado demonstra que esse grupo de contas teve um aumento de 29% (129-100) em relação ao ano anterior (ano base). Portanto, para completar a nossa fórmula, devemos efetuar o seguinte ajuste no nosso cálculo:
Vejamos agora como podemos representar e calcular a Análise Horizontal nos Demonstrativos Financeiros:
O mesmo cuidado devemos ter com Análise Horizontal do Demonstrativo de Resultado. Existe também outro agravante de atenção à sua análise e interpretação, pois agora estamos falando de contas credoras e devedoras no sentido de receitas, custos e despesas e como o objetivo neste caso é aumentar o lucro, não só o aumento das receitas poderá ser suficiente para surtir tal efeito. Podemos contar também com a redução dos custos de despesas.
Da mesma forma, o inverso poderá ser prejudicial para com o resultado final de lucro da companhia. Vejamos o nosso exemplo:











Como exemplo da sua interpretação, o aumento do Custo dos Produtos/Serviços Vendidos apurado em 47,9% é muito mais significativo que o aumento das Despesas Comerciais (119,1%), pois, pela análise vertical o primeiro representa 70,8 % e o segundo 2,3% sobre a receita líquida total.

Caso Prático

Elabore a análise vertical e horizontal dos demonstrativos financeiros abaixo e faça rápidos comentários:

Solução do Caso Prático

CONCLUSÕES















  1. O aumento de Contas e Receber (39,3%) e de Estoques (44,4%) levaram as Indústrias Ltda. a buscar mais recursos para capital de giro, o que elevou o seu endividamento em 121,7% a curto prazo;
  2. Houve um aumento de R$4.000 mil no ativo imobilizado que representa aproximadamente 50% do ativo total;
  3. O recursos a curto prazo não foram suficientes para acompanhar a alavancagem das Indústrias Ltda e por isto ela teve que buscar novos recursos a longo prazo, aumentando a linha de Financiamentos em cerca de 80%;
  4. O aumento das Receitas de Vendas provavelmente não foi como esperado, o que acabou reduzindo o lucro líquido em cerca de 25,9%, decorrente principalmente ao aumento com as despesas financeiras (144,6%);
Boa Sorte

domingo, 13 de julho de 2014

AVALIAÇÃO DA RENTABILIDADE DE UNIDADES DE NEGÓCIOS


                                                                       












Hoje abordaremos uma importante metodologia na avaliação da rentabilidade de unidades de negócio, explorando basicamente os seguintes aspectos:
  • O Cálculo do EVA/MVA da operação;
  • O que fazer com Unidades Destruidoras de Valor;
  • Como “ Explodir” os Ativos Operacionais e os Gastos Fixos;
  • O Cálculo do EVA/MVA de cada Unidade e sua Interpretação;
Mostraremos que, mesmo que haja geração de EVA/MVA pela operação como um todo, muitas vezes haverá algumas unidades destruidoras de valor, limitando assim a existência de EVA´s maiores.
Observaremos que uma unidade de negócio poderá apresentar lucro mesmo sendo uma destruidora de valor. Isto é possível quando se considera o custo do capital próprio na avaliação da unidade de negócio.
O aspecto mais importante a ser observado consiste na “explosão” dos ativos operacionais e dos gastos fixos, para que possamos associar resultados das unidades de negócio com investimentos realizados.
Mostramos ainda que havia 3 condições para o EVA:
  • positivo, quando o lucro operacional é superior aos gastos com a estrutura de capital;
  • equilíbrio: quando o lucro operacional é igual aos gastos com a estrutura de capital;
  • negativo: quando o lucro operacional é inferior aos gastos com a estrutura de capital.
O MVA é a diferença entre o valor de mercado (MV) e o capital investido (próprio).
Valor de Mercado (MV) =
Lucro Líquido/Custo do Capital Próprio
O MVA é definido como sendo o EVA /CCP. O MVA mostra o quanto o acionista ficou mais rico. O EVA explica.
Eis algumas abreviações utilizadas no texto:
  • EVA = Economic Value Added
  • MVA = Market Value Added
  • MV = Market Value
  • CT = Capital de Terceiros
  • CCT = Custo do Capital de Terceiros
  • CP = Capital Próprio
  • CCP = Custo do Capital Próprio
  • GV = Gastos Variáveis
  • GFI = Gastos Fixos Identificados
  • GFNI = Gastos Fixos Não Identificados
Para calcularmos o EVA/MVA de unidades de negócio, apresentamos abaixo um exemplo:
Suponhamos que determinada rede de varejo seja composta de um escritório central (MATRIZ) e duas lojas (LOJA A e LOJA B). O escritório central fica em um prédio independente das lojas. Uma loja fica localizada na Zona Sul (LOJA A) e outra loja na Zona Leste (LOJA B).
Cada loja tem as seguintes informações que lhe são específicas: vendas, custos variáveis, custo fixo da loja, ativos operacionais, financiamentos operacionais, capital de terceiros e capital próprio.
A Matriz não vende nada, não tem custos variáveis, mas tem ativos operacionais próprios, tem custos fixos também próprios e sua estrutura de capital.
Neste exemplo faremos uma separação dos gastos fixos. Eles são separados em identificados às lojas e não identificados. Nenhum tipo de rateio é feito. Vale o princípio do fluxo de caixa incremental, respeitado na análise de projetos. Cada loja é analisada com base em suas receitas, gastos e investimentos incrementais. Cada loja é analisada em relação ao restante da organização.
A Matriz é destruidora de valor. Portanto, as Lojas A e B deverão criar valor, na média, para compensar o valor destruído pela Matriz.
Os dados consolidados da rede de varejo referentes ao ano de 9X são os seguintes:
  • Custo de Capital Próprio: 20% ao ano líquido
  • Custo de Capital de Terceiros: 10% ao ano líquido
Para economizar tempo, vamos esquecer a questão tributária. Todas as informações estão “limpas” do impacto tributário
BALANÇO PATRIMONIAL DA REDE
Como pode-se notar, houve no ano de 9X um EVA® de $300, significando que a rede de varejo, no consolidado, conseguiu agregar este valor para os acionistas. Este EVA® nada mais é do que a diferença entre o lucro operacional de $1.700 menos os gastos com a estrutura de capital de $1.400 ($200 de CCT e $1.200 de CCP).
O EVA® de $300 implicou em um MVA de $1.500. É o que foi criado de valor para o acionista.
Como a Matriz destrói valor, surgem as seguintes perguntas:
  • As 2 lojas constróem valor e compensam o que a Matriz destrói, ou
  • Uma loja cria valor e compensa o que a outra loja mais a Matriz o destroem?.
CÁLCULO DO EVA E O MVA DAS LOJAS E MATRIZ
Atenção!
Se não entender algumas das abreviações apresentadas a seguir, consulte o texto já apresentado sobre CONCEITOS E ABREVIAÇÕES RELEVANTES.
“Quebra” do Balanço Patrimonial da rede entre a Loja A, Loja B e Matriz
“Quebra” do Resultado da rede entre a Loja A, Loja B e Matriz
As receitas, gastos, ativos operacionais e capitais de terceiros das lojas foram identificados, sem qualquer tipo de procedimento subjetivo. O que não “pertence” objetivamente às lojas foi considerado na estrutura patrimonial e de resultados da Matriz.
Desta análise individual observamos que a Loja A apresenta um lucro operacional $350. Todavia, a estrutura de capital custa $500, significando portanto que a Loja A destrói valor, como pode ser evidenciado pelo EVA® negativo de $150. A Matriz destrói valor, mas como ele não gera receitas, assume-se que esta destruição de valor seja estrutural.
Evidentemente, antes de concluir pelo fechamento da Loja A tentaríamos sua revitalização. Podemos perceber que em redes de varejo é vital que as lojas sejam analisadas individualmente para que identifiquemos aquelas que realmente agregam e aquelas que destróem valor para os acionistas. Sem esta visão, a administração poderá ser enganada pelo fato do negócio estar agregando valor no global, e que portanto nada precisa ser feito, permitindo que lojas destruidoras de valor continuem a operar.
Caso a Loja A não possa ser revitalizada, ou seja, o lucro operacional que está apresentando seja o máximo possível, então ela deverá ser fechada. Se os dados do seu Balanço Patrimonial específico forem verdadeiros, o capital liberado para o acionista será de $2.000.
É desejável que estes $2.000 pudessem ser aplicados na instalação de uma nova loja potencialmente criadora de valor para o acionista. Se a implantação de uma nova loja estiver fora de cogitação, é melhor distribuir este valor para os acionistas na forma de dividendos e neste caso, o fechamento da Loja A faz desaparecer o lucro líquido de $250, todavia desaparece também o custo do capital próprio de $400 (0,20 x $2.000).
Mesmo que no fechamento da Loja A o capital disponível para o acionista seja inferior a $2.000, nada modificará nossa recomendação até o limite de $1.250. Se sobrarem apenas $1.250, o fechamento da Loja A será indiferente, pois o custo do capital próprio liberado será somente de $250 (0,20 x $1.250).
DADOS CONSOLIDADOS DA REDE (APÓS O FECHAMENTO DA LOJA A)
O EVA sem a Loja A é de $450. O EVA® com as 2 Lojas é de $300. A diferença de $150 deve-se ao encerramento da Loja A que apresentava um EVA® negativo de $150. Antes do fechamento da Loja A o Market Value era de $7.500. Agora é de $6.250, ou seja, menos $1.250. Era o Market Value da Loja A. Porém, não nos esqueçamos que foram distribuídos $2.000 na forma de dividendos para os acionistas.
COMENTÁRIOS FINAIS
♦ O conteúdo deste artigo poderá ser aplicado a qualquer tipo de negócio, e não somente a operações varejistas. Basta formatar o negócio de maneira apropriada.
♦ Quando se analisa um projeto de investimento, o objetivo é determinar o quanto aquele investimento novo irá agregar de valor para o acionista. Estima-se o que aquela “parte” vai adicionar de valor para o “todo”.
♦ Portanto, para análise do projeto de investimento somente interessam investimentos, receitas e gastos operacionais incrementais. O novo investimento não será contaminado com rateios de investimentos e gastos operacionais já existentes e que serão aproveitados no projeto.
♦ Este princípio foi respeitado para “explodir” o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado da Rede de varejo entre Loja A, Loja B e Matriz.
♦ Foi preciso reconhecer que a Matriz destrói valor mas suas funções são estratégicas. Portanto, ela não poderá ser fechada.
♦ Os ativos operacionais, passivos operacionais, financiamentos, receitas e gastos operacionais da Loja A e Loja B desaparecem caso elas sejam eliminadas. Elas são analisadas individualmente em relação ao restante do negócio como se fossem um projeto novo de investimento.
♦ Portanto, as informações sobre EVA e MVA das Lojas A e B são confiáveis.
♦ Conforme visto, é possível que o EVA consolidado seja positivo, sem necessariamente indicar que todas as unidades sejam criadoras de valor para o acionista.
♦ Todos os valores não identificados diretamente a nenhuma das 2 lojas serão considerados na estrutura patrimonial e de resultados da Matriz. Exemplo: os ativos operacionais do depósito que não serão eliminados se qualquer das 2 lojas fecharem estão no ativos operacionais da Matriz. Outro exemplo: os salários do gerente que cuida das 2 lojas, e que não será diminuído caso uma das 2 lojas sejam encerradas também estará na estrutura de gastos operacionais da Matriz.
♦ A Matriz é assumidamente destruidora de valor, já que ela não é uma unidade de negócio que gere receitas.
♦ Pelo fato de ser destruidora de valor, é preciso que as lojas gerem EVA´s altos para que possam “subsidiar” a destruição de valor por parte da Matriz.
♦ Lojas destruidoras de valor devem ser revitalizadas ou eliminadas.
♦ Em caso de eliminação de uma loja, devemos liquidar todos seus ativos e pagar suas dívidas de curtíssimo prazo. A segunda alternativa é buscar um investimento em uma nova loja criadora de valor. A terceira alternativa e pagar dividendos e portanto reduzir o custo do capital próprio. Aplicar dinheiro no mercado financeiro ou pagar dívidas estruturais são economicamente alternativas menos interessantes do que reduzir o custo do capital próprio.
Boa Sorte