FLUXO DE CAIXA
E LUCRO LÍQUIDO – Principais Diferenças
1 - Introdução
Empresas que possuem
política de imobilizações mais agressiva e elevada necessidade de investimento
operacional em giro poderão apresentar bons lucros e péssimos fluxos de caixa
para os acionistas (até negativos). Como alguns modelos antigos de avaliação de
empresas utilizavam o lucro líquido em vez do fluxo de caixa, é importante
salientar as principais diferenças entre ambos:
♦
Ativos diferidos
♦
Depreciação e itens monetários e não financeiros
♦Diferenças temporais entre a venda e o
recebimento, o custo e o pagamento, a venda e o recebimento;
♦ Emissão ou recompra de ações;
♦ Fundos de pensão;
♦ Inadimplência;
♦ Investimento
em controladas e coligadas e participações minoritárias;
♦ Investimento em
intangíveis e outros ativos;
♦ IR diferido;
♦ Necessidade de
investimentos em giro e em imobilizados;
♦ Operações de leasing;
♦ Pagamento de juros e
variações nas dívidas financeiras;
♦ Provisões para devedores duvidosos e outras
provisões;
♦Receitas e despesas financeiras – podem ser reconhecidos e não recebidos;
♦ Receitas e despesas não
operacionais;
♦
Reversão de provisões;
Em termos gerais, há boas
razões para se preferir o uso do fluxo de caixa sobre o lucro. Motivos como os
da relação a seguir, justificam a preferência dos investidores em analisar
projeções de fluxos de caixa, ao invés de fluxos de lucros. Todavia, fluxos de
caixa e de lucro se "encontram" ao longo do tempo. Nenhum projeto
será excelente sob a perspectiva do caixa e muito ruim do ponto de vista de
lucro. O inverso também
é verdadeiro.
• Em tese, o fluxo de caixa
projetado sistematicamente positivo, considerando inclusive o pagamento do
serviço da dívida, poderá ser pago para o acionista na forma de dividendos.
• Bons projetos tendem a
mostrar excedentes de caixa sistematicamente positivos. Eventuais déficits são de valores toleráveis e
freqüência baixa.
• Um fluxo de lucros
projetados poderia esconder um déficit de caixa provocado pela necessidade de
um reinvestimento e pela necessidade de investimento em capital de giro.
• Fluxos de caixa positivos
indicam recursos disponibilizados para a empresa e para os acionistas.
Inversamente, fluxos de caixa negativos apontam a necessidade de aporte de
novos capitais.
• Na verdade, não importa
se o caixa do projeto será pago ou não para o acionista na forma de dividendos.
O que importa é que o caixa ficará à disposição da empresa, ou seja, ela terá o
poder de decidir o que fazer com o dinheiro, distribuir ou aplicar em projetos
que teoricamente vão render mais para os sócios do que se estes aplicarem seus
recursos em outras alternativas.
2 – Separação entre as Operações e o
Financiamento
Se a
separação entre o que é operacional e financeiro na empresa é tão importante,
alguma conceituação deve ser fornecida. Neste item, são apresentadas três
visões distintas do lucro operacional. Adicionalmente, há uma visão do fluxo de
caixa operacional após o efeito dos tributos.
O Objeto 1 mostra uma
visão do conceito de lucro operacional segundo a legislação societária. Deve-se
notar que, no conceito da legislação societária brasileira, os juros pagos pela
empresa são descontados quando do cálculo do lucro operacional, ou seja, são
considerados de natureza operacional. Desta forma, perde-se a distinção entre
os componentes operacionais e financeiros do resultado da empresa.
Uma explicação de por que
tal procedimento é mantido pode residir na dificuldade de classificar a conta
de correção monetária, que contém componentes tanto operacionais, associados à
erosão das contas monetárias do capital de giro operacional, quanto
financeiros, provenientes da redução dos juros nominais sobre aplicações e
empréstimos financeiros.
Como, pela legislação
societária, é difícil separar estes componentes, é lícito manter a conta de
correção monetária entre as operacionais. Por coerência, e para evitar induzir
à sua super-avaliação, torna-se defensável apor, entre as contas operacionais,
a despesa com juros. Para simplificar, consideramos que a alíquota de IR é de
30%.
Objeto 1
Lucro Operacional segundo a
Legislação Brasileira
CONTA
|
VALOR
|
Vendas
|
1.000
|
Custos
|
(500)
|
Depreciação
|
(50)
|
Despesas
Operacionais
|
(250)
|
Juros
|
(100)
|
Lucro
Operacional (LAIR)
|
100
|
Imposto
de Renda (30%)
|
(30)
|
Lucro Líquido
|
70
|
Já na prática
norte-americana, mostrada no Objeto 2, o lucro operacional é calculado antes do
efeito dos juros. Com isto, tenta-se obter uma separação entre efeitos
operacionais, do investimento realizado, e financeiros, da escolha de financiamento
da empresa. Esta segregação é coerente com o pensamento predominante na teoria
de estrutura de capital, que preconiza a separação entre as decisões de
investimento e financiamento da empresa.
Objeto 2
Lucro Operacional segundo a Prática Norte-americana
CONTA
|
VALOR
|
Vendas
|
1.000
|
Custos
|
(500)
|
Depreciação
|
(50)
|
Despesas
Operacionais
|
(250)
|
Lucro
Operacional (LAJIR)
|
200
|
Juros
|
(100)
|
Lucro antes de IR (LAIR)
|
100
|
Imposto
de Renda (%)
|
(30)
|
Lucro
Líquido
|
70
|
Entretanto, esta
segregação de resultados operacionais e financeiros não é completa, pois ignora
a natureza dupla do imposto de renda. Uma visão do lucro operacional que
reflete esta segregação de operações e financiamento, inclusive
quanto ao imposto de renda, é apresentada no Objeto 3.
Objeto 3
Lucro Operacional com Segregação
Completa entre Operações e Financiamento
CONTA
|
VALOR
|
Vendas
|
1.000
|
Custos
|
(500)
|
Depreciação
|
(50)
|
Despesas
Operacionais
|
(250)
|
IR s/
Operações
|
(60)
|
Lucro Operacional após IR (NOPLAT)
|
140
|
Juros
|
(100)
|
IR
s/ Juros (Benefício Fiscal)
|
30
|
Lucro
Líquido
|
70
|
Caso a empresa não
tivesse qualquer dívida, o imposto de renda recairia sobre a diferença entre as
vendas e os gastos operacionais, especialmente os custos, a depreciação e as despesas
operacionais. Este valor é o imposto de renda sobre as operações, ajustado para
uma empresa sem dívidas.
Sendo despesas, os juros
reduzem o imposto de renda a pagar, em um efeito de benefício fiscal. Este
benefício fiscal reduz o custo dos juros para os sócios da empresa. Deve-se
notar que o imposto de renda sobre as operações, descontado do benefício fiscal
dos juros, é o próprio imposto de renda calculado nas duas versões anteriores.
Um conceito complementar
é o de fluxo de caixa livre para a empresa (FCLE), exemplificado na Objeto 4. O
conceito por trás dos cálculos é o do fluxo de caixa que a empresa fornece aos
seus investidores, independentemente ou antes dos efeitos financeiros. Para
tal, toma-se como ponto de partida o lucro operacional, com segregação completa
entre operações e financiamento, adicionando-se e deduzindo-se a depreciação e efeitos
operacionais de caixa não incorporados no cálculo do lucro, como novos
investimentos e acréscimos / reduções no capital de giro operacional da
empresa.
Objeto 4
Fluxo de Caixa Livre para a Empresa
e para os Sócios
CONTA
|
VALOR
|
Vendas
|
1.000
|
Custos
|
(500)
|
Depreciação
|
(50)
|
Despesas
Operacionais
|
(250)
|
IR s/
Operações
|
(60)
|
Lucro Operacional (após IR ajustado)
|
140
|
Depreciação
|
50
|
Imobilizações
|
(40)
|
Aumento
do Capital de Giro
|
(20)
|
Fluxo de Caixa Livre para a Empresa
|
130
|
Juros
|
(100)
|
IR
s/ Juros (Benefício Fiscal)
|
30
|
Amortizações
de Empréstimos
|
(70)
|
Novos
Empréstimos
|
20
|
Fluxo de Caixa Livre para os Acionistas
|
10
|
Esta é a versão que
incorpora os conceitos de lucro operacional e de fluxo de caixa operacional. É
importante ser notado que tanto o lucro operacional quanto o fluxo de caixa
operacional já vêm descontados dos efeitos tributários decorrentes das operações.
Boa Sorte