sábado, 23 de janeiro de 2016

A CAPACIDADE DE PAGAMENTO DE UMA EMPRESA - Como Calcular

                                                     
A Capacidade de Pagamento de
uma Empresa - Como Calcular












A análise de demonstrações financeiras está centrada em dois aspectos:
- Avaliação do desempenho dos investimentos, e
- Avaliação da capacidade de pagamento (liquidez).
Desempenho dos investimentos - a principal questão a ser respondida é:
"O desempenho dos investimentos retratados no lado esquerdo do balanço apresentam um retorno satisfatório face ao custo dos capitais empregados para suportá-los (lado direito do balanço)?"
Capacidade de pagamento - a principal questão a ser respondida é:
"Uma empresa gera caixa suficiente paga pagar seus gastos operacionais, impostos, investimentos, dividendos e ainda cumprir o serviço de suas dívidas (juros mais principal)?"
Estas 2 questões podem ser observadas em análise de demonstrações financeiras passadas e projetadas. Para darmos início em nossa análise, utilizaremos um excelente instrumento de controle e gestão financeira que é o nosso Fluxo de Caixa.




A análise do fluxo de caixa poderá se dar sob 2 ângulos:
- Avaliar a capacidade da empresa pagar seus gastos operacionais, impostos,investimentos, dividendos e o serviço da dívida.
- Avaliar um investimento.
Vamos concentrar nosso interesse na análise da capacidade de pagamento de uma empresa.
EXEMPLO
Vamos considerar os balanços patrimoniais e a demonstração de resultado apresentados a seguir:
Balanço patrimonial










(1) Depreciações acumuladas. (2) Patrimônio líquido (3) Capital e reservas. (4) Lucros acumulados

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO - MAIO











Temos 2 balanços patrimoniais e 1 demonstração de resultado encerrados. Para se mostrar como fazer o fluxo de caixa do mês de maio, eis a “receita de bolo”:
Dicas (receita do bolo) para elaborar um fluxo de caixa:
- Pegue a demonstração de resultado e ajuste pela variação do saldo das contas do balanço patrimonial;
- Ajuste cada linha da demonstração de resultado pela variação de saldo de balanço com a qual se relaciona. Tem linhas de resultado que merecem mais de um ajuste;
- A variação de saldo de qualquer conta do ativo será precedida do sinal de"menos". Avariação do saldo de qualquer conta do passivo será precedida do sinal de "mais", e
- Lembre-se: a variação positiva do saldo de qualquer conta do ativo representa um acréscimo nos investimentos e uma demanda por dinheiro. A variação positiva do saldo de qualquer conta do passivo representa um acréscimo na oferta de dinheiro. O inverso é verdadeiro.
O quadro a seguir apresenta a solução do exercício resumida.
Na essência, o fluxo de caixa nada mais é do que a demonstração do resultado “articulada” com as variações dos saldos das contas do balanço patrimonial.
Vendas brutas são associadas à variação no saldo de clientes, CMV é associado à variação no saldo da conta de estoques, fornecedores e depreciação, e assim por diante. Ou seja, cada conta de resultado é associada à sua “cara-metade”.

Balanço patrimonial “detalhado” - variação do saldo das contas do balanço patrimonial entre 31/5 e 30/4










Evidentemente, o somatório da variação dos saldos de cada conta do balanço patrimonial são iguais e para montar o fluxo de caixa para o mês de maio, vamos “combinar” cada linha da demonstração de resultado de maio com a variação no saldo de sua “parceira” no balanço patrimonial.
FLUXO DE CAIXA DO MÊS DE MAIO












Leitura do fluxo de caixa do mês de maio:

Recebimento por vendas de $28.000: Se a empresa não tivesse investido $2.000 em clientes, teria entrado no seu caixa $30.000. Todavia, como concedeu um crédito de $2.000 a seus clientes, entrou no seu caixa somente $28.000.
Pagamento de impostos de $4.250: Se a empresa não tivesse recebido um crédito do governo de $250, teria pago $4.500 de impostos. Como recebeu este crédito de $2.000, somente desembolsou $4.250.
Pagamento de custos de $15.000: O custo incorrido foi de $15.000. Todavia a empresa investiu $1.000 em estoques. Seu desembolso foi para $16.000. Porém, recebeu um crédito de fornecedores de $500. Seu desembolso foi para $15.500. Finalmente, ajusta-se $500 pela depreciação incorrida no mês de maio que não representa uma saída de caixa.
Pagamento da despesa de $5.000: Não existe nenhum ajuste a fazer. Toda depreciação foi ajustada contra o custo. Portanto, assume-se que o pagamento da despesa coincide com a despesa incorrida.
Pagamento de IR de $1.400: Se a empresa não tivesse recebido do governo um crédito de $156, teria pago $1.566 de IR. Todavia, como recebeu o crédito de $166, somente pagará de IR $1.400.
Receita financeira de $21: A expressão fluxo de caixa considera o fluxo das disponibilidades imediatas mais as aplicações financeiras de curto prazo. Por esta razão, esta receita financeira de 421 já "nasceu" caixa.
Investimento de $200: A variação de $200 no imobilizado bruto será tratada como investimento.
Pagamento de juros e principal de $1.300: Foram pagos os $300 de juros incorridos mais $1.000 de principal detectados pela redução da dívida de $30.000 para $29.000
Pagamento de dividendos de $600: Se a empresa não tivesse recebido um crédito de $314 dos acionistas, teria pago um dividendos de $914. Porém como recebeu o crédito de $314, somente desembolsou $600.
MODELO DE APRESENTAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA














Exemplos de recebimentos não operacionais: venda de ativos não operacionais; recebimento de dividendos de controladas; recebimento de empréstimos, etc.
Exemplos de pagamentos não operacionais: compra de ativos não operacionais; empréstimos a outras empresas; etc.
Para tornar o conteúdo mais elucidativo, vamos ancorar nossa exposição em cima do caso prático.
- O FCO mostra a geração de caixa proveniente da gestão dos ativos operacionais. Pode ser calculado antes e depois dos investimentos operacionais necessários para manter a geração de caixa da operação. No primeiro exemplo o FCO após os investimentos é superavitário em $2.171.
- O FCA mostra a geração de caixa disponível para o acionista. Em tese, seria o dinheiro disponível para o pagamento dos dividendos. O que separa o FCO após os investimentos e o FCA são: pagamento dos juros; pagamento do principal, e contratação de novos financiamentos. O FCA do exemplo é positivo em $871.
- O fluxo de caixa final é positivo em $271. Explica porque o saldo de caixa passou de $1.000 para $1.271. O valor de $271 mostra que no mês de maio a empresa gerou um caixa suficiente para cobrir: os gastos operacionais; impostos; investimentos; serviço da dívida e dividendos.
Feitos estes comentários preliminares, fica evidente que a capacidade de pagamento de uma empresa deverá ser observada através da análise do fluxo de caixa que é um relatório dinâmico. Portanto, tem pouco valor a análise da capacidade de pagamento se feita com base em indicadores pontuais, como são os conhecidos índices de liquidez corrente, seca e geral.

Os comentários subsequentes são apresentados na linha de perguntas e respostas.

Pergunta: Vale a pena analisar a capacidade de pagamento de uma empresa com base em suas demonstrações financeiras passadas?
Resposta: Em termos. Se quisermos conhecermos como se comportou a capacidade de pagamento da empresa no passado. Porém, é mais comum estarmos interessados em saber sobre a capacidade de pagamento da empresa no futuro. Portanto, nos interessam analisar demonstrações financeiras projetadas.
Pergunta: Para analisar a capacidade de pagamento de uma empresa no longo prazo, deveremos projetar as demonstrações financeiras para quantos anos?
Resposta: Pelo número de anos correspondente ao vencimento da dívida de longo prazo.
Pergunta: Se estivermos decidindo sobre a concessão de um crédito,projetaremos o fluxo de caixa para quantos anos?
Resposta: Pelo número de meses/trimestres/anos correspondente ao período do crédito a ser concedido.
Importante! Os analistas externos deverão obter pelos menos as informações gerais sobre os juros e as condições de vencimento dos empréstimos existentes.
Pergunta: Qual a periodicidade da análise da capacidade de pagamento?
Resposta: Uma análise em bases trimestrais é ideal.
Pergunta: Quais os indicadores mais relevantes para analisar a capacidade de pagamento de uma empresa?
Resposta: Indicador de cobertura dos juros e indicador de cobertura do serviço da dívida (juros mais principal)
INDICADOR DE COBERTURA DOS JUROS (ICJ)
INDICADOR DE COBERTURA DO SERVIÇO DA DÍVIDA (ICSD)
CASO PRÁTICO
Calcular o ICJ e o ICSD com base no exemplo anterior e fazer os comentários que julgar relevantes;
INDICADOR DE COBERTURA DOS JUROS
ICJ = FCO após os Investimentos - Dividendos Pagos =
+ Novos Financiamentos + Integralização de Capital = Juros Pagos (Calcule)
INDICADOR DE COBERTURA DO SERVIÇO DA DÍVIDA
ICJ = FCO após os Investimentos - Dividendos Pagos =
+ Novos Financiamentos
+Integralização de Capital = Juros e Principal Pagos (Calcule)
SOLUÇÃO DO CASO PRÁTICO
INDICADOR DE COBERTURA DOS JUROS
ICJ = $2.171 - $600 + $0 + $0/$300 = 5,2 vezes
Interpretações:
- A empresa gerou caixa para pagar os gastos operacionais, pagar os investimentos, pagar os dividendos e ainda sobrou $1.571 para cobrir um pagamento de juros de $300.
- A geração de caixa cobre 5,2 vezes o pagamento dos juros.
- Para cada $1 de pagamento de juros a empresa gera $5,2.
INDICADOR DE COBERTURA DO SERVIÇO DA DÍVIDA
ICSD = $2.171 - $600 + $0 + $0/$1.300 = 1,2 vez
Interpretações:
- A empresa gerou caixa para pagar os gastos operacionais, pagar os investimentos, pagar os dividendos e ainda sobrou $1.571 para cobrir um pagamento de juros e principal de $1.300.
- A geração de caixa cobre 1,2 vez o pagamento dos juros.
- Para cada $1 de pagamento de juros a empresa gera $1,2.
Comentários adicionais:
- O ideal é que o ICSD não seja inferior a 1,0 (um).
Sendo inferior a 1,0 deverá ser analisado, pois sinaliza problemas de liquidez. Nestas condições, para não ficar inadimplente a empresa recorre a:
a) resgate de aplicações financeiras, ou
b) contratação de financiamentos de curto prazo.
Mesmo assim se a geração de caixa não for suficiente para cobrir o serviço da dívida, resta a alternativa de gerar entradas de caixa não operacionais, se possível, como:
a) venda de ativos não operacionais,
b) recebimento de dividendos de outras empresas,
c) resgate de empréstimos concedidos a outras empresas, etc.
Quando esgotam-se todas as alternativas, restam os atrasos de pagamentos e a concordata.
– Grandes companhias com empréstimos representados pôr papéis emitidos no Brasil e no exterior poderão conviver com ICSD inferior a 1,0 caso estime-se que na época de pagamento do principal as dívidas serão roladas no mercado.
– Empresas com ICSD sistematicamente inferiores a 1,0 e cujos contratos exijam o pagamento dos juros e do principal, apontam para a necessidade de repactuar o serviço da dívida.
– Empresas com ICJ sistematicamente inferior a 1,0 apresentam forte sinalização de risco de falência.
CUIDADO COM A MATEMÁTICA (ou usando a lógica)
  • Quando a geração de caixa líquida estimada para um período for negativa, não se calcula o indicador de cobertura dos juros nem o indicador de cobertura do serviço da dívida.
  • Não tem qualquer sentido determinar um indicador de cobertura de - 1,4!!!
INDICADOR DE LIQUIDEZ CORRENTE E OUTROS
  • O indicador de cobertura dos juros e o indicador de cobertura do serviço da dívida são dinâmicos.
  • Eles mostram a capacidade de pagamento em um determinado período de tempo (trimestre, ano, etc.).
  • Os indicadores de liquidez corrente, liquidez seca, liquidez geral e assemelhados são estáticos.
  • Refletem a relação entre diretos a receber e obrigações a pagar numa determinada data, como se a empresa parasse de operar naquele momento.
  • Estes indicadores de liquidez clássicos devem ser considerados apenas como "indícios" da verdadeira capacidade de pagamento.
  • Porém, como todo indício, pode ser verdadeiro ou falso.
Boa Sorte