segunda-feira, 7 de abril de 2014

COMO APRESENTAR SUA DEMONSTRAÇÃO FINANCEIRA












Vamos assumir que você caro leitor tenha a responsabilidade de elaborar uma análise econômica de sua empresa referente ao mês de janeiro de 1999. 


Analisar economicamente uma empresa consiste em qualificar o lucro. Mais precisamente qualificar o lucro operacional. 


Qualificar o lucro operacional significa concluir de maneira objetiva se o lucro operacional é bom, regular ou ruim. 

Para obter-se êxito na análise econômica da empresa, o balanço patrimonial e a demonstração de resultado deverão ser apresentados da seguinte maneira



BALANÇO PATRIMONIAL EM 31/12/98 - Detalhado

























ATIVO





PASSIVO






Circulante
$46.000
Circulante
$31.780


Caixa

$1.000

Fornecedores


$15.000



Clientes
$30.000
Impostos a Pagar

$3.000



Estoques
$15.000
IR a Pagar

$2.034









Dividendos a Pagar

$4.746









Empréstimos Conjunturais

$3.000









Empréstimos Estruturais

$4.000



Imobilizado Líquido
$60.000
Exigível de Longo Prazo

$6.000




















Valor Bruto


$70.000

Empréstimos Estruturais



$6.000



Depreciação Acumulada
($10.000)


















Patrimônio Líquido

$68.220








Capital



$48.220









Reservas

$20.000



TOTAL DO ATIVO
$106.000

TOTAL DO PASSIVO

$106.000


DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO REFERENTE AO MÊS DE JANEIRO DE 1999

Vendas Brutas
$30.000
(-) Impostos
($3.000)
(=) Vendas Líquidas
$27.000
(-) CMV
($15.000)
(=) Lucro Bruto
$12.000
(-) Despesas Operacionais
($5.000)
(=) Lucro da Atividade
$7.000
(+) Receita Financeira
$10
(-) Juros empréstimos conjunturais
($150)
(=) Lucro Operacional antes do IR
$6.860
(-) Imposto de Renda sobre o Lucro Operacional
($2.058)
(=) Lucro Operacional após o Imposto de Renda
$4.802
(-) Juros empréstimos estruturais/CCT
($200)
(+) Economia de IR sobre os Juros
$60
(=) Juros Líquidos
($140)
(=) Lucro Líquido
$4.662
(-) Custo do Capital Próprio
($2.047)
(=) EVA
$2.615




PREPARAR O BALANÇO PATRIMONIAL PARA ANÁLISE

PRIMEIRO PASSO 


O balanço patrimonial de 31/12/98 é o da operação, ou seja, do lado esquerdo apenas encontraremos os ativos operacionais que somam $106.000. São os investimentos circulantes de $46.000 e fixos de $60.000 que foram necessários para a geração da receita operacional bruta de $30.000 em janeiro de 99. 

Ativos não operacionais, tais como empréstimos concedidos a controladas, imobilizações ociosas e outros são eliminados dos ativos e ajustados contra financiamentos ou patrimônio líquido. 


Em suma: temos o balanço patrimonial apenas da operação. 

Importante! Os empréstimos de curto prazo foram separados em: 

♦ Conjunturais ($3.000): contratados em razão da falta de caixa para pagar obrigações. Geralmente um dinheiro de curto prazo, a taxas de juros elevadas. Este tipo de dívida costuma ser paga logo que exista excedente de caixa para tal fim. 

♦ Estruturais ($4.000): contratados para suportar decisões de investimento (BNDES, por exemplo). Geralmente um dinheiro de longo prazo, a taxa de juros moderadas. É um empréstimo originário de uma decisão de estrutura de capital. 

Os empréstimos de longo prazo de $6.000 são todos estruturais. 

A alíquota do IR combinada com a da CSLL é de 30%. 

O juro nominal dos empréstimos conjunturais é de 5% ao mês, ou 3,5% líquido. Basta dividir $150 por $3.000 que chegaremos a 5%. 

O juro nominal dos empréstimos estruturais é de 2% ao mês, ou 1,4% líquido. Basta dividir $200 por $10.000 que chegaremos a 2%. 


SEGUNDO PASSO


O balanço patrimonial em 31/12/98 deverá ser compactado da seguinte maneira:

BALANÇO PATRIMONIAL EM 31/12/98 - Compactado

ATIVO

PASSIVO

Ativo Operacional
$106 .000
Passivo Operacional
$27.780


Capital de Terceiros
$10.000


Capital Próprio
$68.220
TOTAL DO ATIVO
$106.000
TOTAL DO PASSIVO
$106.000



O passivo operacional de $27.780 contempla todos os financiamentos espontâneos, provenientes da própria dinâmica empresarial, incluindo os empréstimos estruturais. Vamos dizer que o passivo operacional agrupe os financiamentos originários espontaneamente do negócio.

O capital de terceiros de $10.000 contempla os empréstimos estruturais de curto prazo de $4.000 mais o de longo prazo de $6.000.

O capital próprio de $68.220 engloba os recursos integralizados pelos acionistas mais os lucros reinvestidos.



O último estágio de compactação do balanço patrimonial é o seguinte:

BALANÇO PATRIMONIAL EM 31/12/98 – Compactação final

ATIVO

PASSIVO

Ativo Operacional Líquido (AOL)
$78.220
Capital de Terceiros (CT)
$10.000


Capital Próprio (CP)
$68.220
TOTAL DO ATIVO
$78.220
TOTAL DO PASSIVO
$78.220



O ativo operacional líquido de $78.220 é a diferença entre o ativo operacional de $106.000 menos o passivo operacional de $27.780. O ativo operacional líquido (AOL) é a parcela do ativo operacional cujos financiamentos foram “buscados” fora da operação (capital de terceiros mais capital próprio).

O custo do capital de terceiros é de 1,4% ao mês, conforme citado. Em dinheiro corresponde a $140 (0,014 x $10.000). No resultado aparece como juros estruturais.

O custo do capital próprio é de 3% ao mês. Em dinheiro corresponde a $2.047 (0,03 x $68.220).

   Portanto a estrutura de capital custa $2.187 ($140 + $2.047).

Consequentemente, o lucro operacional para janeiro de 99 deverá ser de, no mínimo, $2.187.







PREPARANDO A DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO
PARA ANÁLISE



A demonstração de resultado apresentada na página 4 segue um formato bastante particular em relação ao formato usual que encontramos diariamente nos jornais e revistas, e até mesmo em relação ao formato utilizado pelas empresas em suas análises internas.

A receita financeira de $10 é considerada parte integrante do lucro operacional. O investimento em caixa/bancos/disponibilidades é um ativo operacional. Portanto, a receita financeira proveniente de seu bom gerenciamento também só poderá ser tratada como operacional. É uma espécie de redutor das despesas operacionais, ou redutor dos juros dos empréstimos conjunturais. A receita financeira somente será tratada como não operacional quando proveniente de notórios excedentes de caixa. Um notório excedente é representado por recursos aplicados no mercado financeiro, mas que poderiam ser distribuídos na forma de dividendos, sem comprometer o caixa da operação.

Os juros brutos de $150 dos empréstimos conjunturais também são tratados dentro do lucro operacional, já que o empréstimos conjunturais de $3.000 estão dentro do passivo operacional.


O lucro operacional está evidenciado antes do imposto de renda ($6.860) e depois do imposto de renda ($4.882). O que importa é o lucro operacional depois do imposto de renda e da CSLL. Detalhe: os resultados apresentados na mídia impressa nos induzem a pensar em lucro operacional antes dos impostos, pela maneira como estes estão apresentados.

♦ Os juros líquidos de $140 dos empréstimos estruturais estão fora do lucro operacional. No formato de apresentação que estamos recomendando estes juros já estão apresentados deduzidos na economia fiscal. Os $140 representam a diferença entre os $200 menos a economia fiscal de $60.

♦ O custo do capital próprio de $2.047 está apresentado após o lucro líquido de $4.662. Nas demonstrações de resultado costumeiramente apresentadas, somente observamos os juros do capital de terceiros. No formato por nós sugerido, apresentamos as duas pernas: os juros do capital de terceiros e o custo do capital próprio (o que não deixa de ser uma espécie de juros do capital próprio cobrado pelos acionistas – não confundir com o cálculo dos juros sobre capital atualmente existente).

♦ Como estamos analisando “a operação”, observamos que o balanço patrimonial apresentado não contempla ativos operacionais. Consequentemente, a demonstração de resultado também não contempla receitas e despesas não operacionais.

♦ A demonstração de resultado mostra um EVA de $2.615. O EVA – Economic Value Added ou valor econômico adicionado/criado/agregado tem como principal interpretação o significado de um retorno extra. Retorno extra significa lucro acima das expectativas. Vamos nos recordar da máxima: somente ficamos mais ricos quando detemos ativos que valem mais do que o capital investido. Para que um ativo valha mais do que o capital investido ele deverá apresentar retornos acima das expectativas. Portanto, ter EVAs sistematicamente é essencial.





MÉRITO DO FORMATO SUGERIDO NESTE ESTUDO PARA
A PRESENTAÇÃO DOS DEMONSTRATIVOS



Lembremo-nos de que analisar economicamente uma empresa é qualificar o lucro, e que este lucro é o operacional.

Portanto, vamos fixar nossa atenção no lucro operacional de $4.802, já depois do IR e da CSLL (que é o que importa).

Se “olharmos para cima”, vamos encontrar na extremidade superior as vendas brutas de $30.000. O que separa as vendas brutas do lucro operacional são os chamados gastos com a operação.

Se “olharmos para baixo”, vamos encontrar na extremidade inferior o EVA. O que separa o lucro operacional de $4.802 do EVA de $2.615 são os chamados gastos com a estrutura de capital. É o custo do capital de terceiros de $140 mais o custo do capital próprio de $2.047 ($4.802 - $2.615 = $2.187 = $140 + $2.047).

Portanto, para qualificar o lucro operacional e conhecer com precisão o desempenho econômico de uma empresa num certo período de tempo, não devemos olhar para cima e sim olhar para baixo.


  Não importa se o lucro operacional representou 10% ou 12% das vendas líquidas. O que importa é se o lucro operacional cobriu cobriu os gastos com a estrutura de capital



Lucro operacional bom é aquele que supera os gastos com a estrutura de capital.

Lucro operacional regular é aquele que se equipara aos gastos com a estrutura de

         capital.

Lucro operacional ruim é aquele que fica abaixo dos gastos com a estrutura de capital.



Em nosso exemplo o Lucro Oparacional de R$ 4.802 é bom, pois ele cobre os gastos com a estrutura de capital de R$ 2.047 e deixa um excedente de retorno de R$ 2.615, que é o EVA.






REFORÇANDO A ANÁLISE ECONÔMICA



Em termos de valor, a estrutura de capital custa $2.187 ($140 pelo capital de terceiros e $2.047 pelo capital próprio).

Em termos percentuais ela custa 2,796% ($2.187 / $78.220). O valor de $78.220 é o somatório do capital de terceiros de $10.000 mais o capital próprio de $68.220 (e evidentemente é o mesmo valor do ativo operacional líquido)

Portanto, o lucro operacional de equilíbrio deveria ser de $2.187, valor suficiente para cobrir os gastos com a estrutura de capital de $2.187.

O lucro operacional de $4.802 é superior ao de equilíbrio, e representa um retorno sobre o ativo operacional líquido de 6,139% ($4.802 / $78.220).

Este retorno de 6,139% representa um excedente de 3,343% em relação ao mínimo exigido de 2,79% (6,139% - 2,79%).

Este excedente de retorno de 3,343% aplicado sobre o ativo operacional líquido de $78.220 fecha com o EVA de $2.615 (0,03343 x $78.220 = $2.615).



Confirma-se que a situação econômica é boa. Sobre o investimento de $78.220 conseguiu-se um retorno de 6,14% para um custo de capital de 2,79%. “Aplicou-se a uma taxa superior àquela que captou-se”.

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